A Escola de Salamanca inaugurou princípios econômicos e morais que originaram o liberalismo e inspiraram a Escola Austríaca de Economia.
A gênese intelectual da Escola de Salamanca
Os teólogos e juristas salmantinos, herdeiros do tomismo de São Tomás de Aquino, inauguraram um modo racional e científico de compreender a ação humana — antecipando princípios que, séculos depois, formariam o núcleo da Escola Austríaca de Economia.
O contexto europeu do século XVI
As Grandes Navegações abriram novas rotas comerciais, o *ouro americano inundava a Espanha, e a Reforma Protestante questionava a autoridade eclesiástica.
*O “ouro americano” era o metal precioso trazido das colônias espanholas da América, cuja abundância causou inflação na Europa e despertou, entre os teólogos da Escola de Salamanca, as primeiras reflexões sistemáticas sobre o valor do dinheiro, os preços e a moralidade econômica.
O núcleo intelectual de Salamanca
Entre os principais nomes, destacam-se:
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Francisco de Vitoria (1483–1546) – considerado o fundador da escola. Defendeu a ideia de um direito natural universal, aplicável a todos os povos, e a legitimidade do comércio pacífico entre nações.
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Domingo de Soto (1494–1560) – introduziu reflexões pioneiras sobre justiça econômica, contratos e formação de preços.
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Martín de Azpilcueta (1491–1586) – antecipou a teoria quantitativa da moeda, relacionando a expansão do ouro ao aumento dos preços, um dos primeiros estudos sobre inflação.
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Luis de Molina (1535–1600) – formulou a teoria da liberdade humana e argumentou que o valor surge da utilidade percebida pelo indivíduo.
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Juan de Mariana (1536–1624) – defendeu os limites do poder político e a legitimidade da resistência contra governos tirânicos.
Esses autores criaram uma verdadeira síntese entre ética, razão e economia, marcando o nascimento da economia política moral.
Fundamentos filosóficos e teológicos
Inspirados em Tomás de Aquino, afirmavam que:
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a liberdade de escolha é um atributo da vontade racional;
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a propriedade privada é legítima como meio de preservação da vida e do bem comum;
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e o mercado é um espaço natural de cooperação entre indivíduos livres.
Essa visão ético-racional substituiu a economia do pecado por uma economia da responsabilidade, em que o indivíduo age livremente dentro da ordem moral criada por Deus.
A economia como extensão da moral
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o preço justo não é imposto pelo Estado, mas determinado pela oferta e demanda;
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o lucro é compensação pelo risco e pela habilidade empresarial;
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e o juro pode ser moralmente legítimo, como remuneração do capital.
Esses conceitos deslocaram a análise econômica da moral ascética para uma moral racional — abrindo caminho para o individualismo econômico que mais tarde influenciaria Adam Smith e os austríacos.
A teoria monetária e o papel do dinheiro
Essa descoberta mostra que a Escola de Salamanca já intuía leis econômicas universais, dedutíveis pela razão e observáveis na experiência — exatamente o método que Carl Menger chamaria de praxeologia no século XIX.
Da moral ao mercado: a transição intelectual
Convergências com a Escola Austríaca de Economia
Esse quadro demonstra a continuidade intelectual entre Salamanca, o Liberalismo Clássico e a Escola Austríaca — três momentos de uma mesma tradição de liberdade.
Legado e permanência
No Brasil, esse legado se manifesta na atuação de instituições como o Instituto Mises Brasil, o Instituto Liberal e o IFL, que retomam o ideal de uma economia ética e livre, fiel às origens morais de Salamanca.
Conclusão: uma escola que não envelhece
Suas lições ecoam em Menger, Mises e Hayek, mas também em toda visão de economia que respeite a liberdade, a moral e a razão.
A Escola de Salamanca mostrou que a liberdade não é apenas um direito econômico, mas a expressão mais nobre da razão humana em busca do bem comum. (Rafael José Pôncio)
Conclusão: uma escola que não envelhece
Suas lições ecoam em Menger, Mises e Hayek, mas também em toda visão de economia que respeite a liberdade, a moral e a razão.
Bom trabalho e grande abraço.
Rafael José Pôncio, PROF. ADM.
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