terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ludwig von Mises e a visão austríaca do empreendedor

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Ludwig von Mises destacou o empreendedor como agente central da ação humana, essencial para entender incerteza, risco e prosperidade econômica.


Ludwig von Mises: vida e trajetória intelectual

Ludwig Heinrich Edler von Mises nasceu em 29 de setembro de 1881, em Lemberg, no então Império Austro-Húngaro (atual Lviv, Ucrânia). Proveniente de uma família judaica de classe média-alta, Mises teve acesso a uma educação sólida desde cedo, desenvolvendo grande interesse por história, filosofia e economia.

Estudou Direito e Economia na Universidade de Viena, onde teve contato com a obra de Carl Menger, fundador da Escola Austríaca, e foi profundamente influenciado por Eugen von Böhm-Bawerk e Friedrich von Wieser. Sua carreira acadêmica floresceu em Viena, mas, devido à ascensão do nazismo e às perseguições contra judeus, Mises deixou a Áustria em 1934, vivendo em Genebra até emigrar para os Estados Unidos em 1940.

Nos Estados Unidos, tornou-se professor na New York University, onde, apesar de não ocupar uma cátedra oficial, conduziu seminários que reuniram jovens economistas — entre eles, Israel Kirzner, que mais tarde aprofundaria a visão austríaca do empreendedor.

Mises faleceu em 1973, deixando um legado monumental para a teoria econômica e para a defesa da liberdade individual.


A contribuição teórica de Mises

A obra mais importante de Mises é Ação Humana: Um Tratado de Economia (1949), onde desenvolveu a praxeologia, isto é, a ciência da ação humana. Para ele, toda atividade econômica se origina em uma decisão humana, carregada de expectativas sobre o futuro. Assim, a economia não pode ser reduzida a números estáticos, mas deve ser entendida como um processo dinâmico de escolhas em condições de incerteza.

Conheça a obra Ação Humana de Mises aqui disponível em pdf.

Essa perspectiva diferenciava Mises dos economistas de sua época, que buscavam fórmulas matemáticas de equilíbrio. Em vez disso, ele insistia que a economia é movida por indivíduos que agem, erram, aprendem e descobrem.


O empreendedor na visão de Mises

Dentro da praxeologia, o empreendedor é uma figura essencial. Para Mises, todo indivíduo que age em condições de incerteza é, em alguma medida, empreendedor.

  • O empreendedor não apenas calcula, mas arrisca, porque suas decisões estão voltadas ao futuro, que nunca é plenamente conhecido.

  • Ele combina recursos, avalia preços e expectativas, sempre na tentativa de satisfazer necessidades humanas de maneira mais eficiente.

  • Ao contrário de uma visão mecanicista, Mises mostra que o empreendedor é insubstituível: não existe fórmula matemática capaz de reproduzir a sensibilidade humana diante da incerteza.

O mercado, portanto, não é uma engrenagem impessoal: ele é construído pela ação contínua de empreendedores que arriscam e inovam. É nesse processo que surge a coordenação econômica e, em última instância, o progresso social.

O empreendedor na visão de Mises

Na perspectiva de Ludwig von Mises, o empreendedor representa a função central do processo de mercado, pois ao agir sob incerteza orienta recursos escassos em direção às necessidades humanas.


O empreendedor como herói da incerteza

Mises rompe com a ideia de que o empreendedor é apenas um “capitalista” ou um “gestor”. Para ele, o empreendedor é um herói da incerteza. Age sem garantias, guiado pela esperança de lucro, mas também sujeito ao risco de prejuízo. Essa função, longe de ser marginal, é o coração do processo de mercado.

Nas palavras de Mises, o empreendedor é o responsável por direcionar os fatores de produção conforme as preferências dos consumidores. É ele quem ajusta erros, experimenta novos caminhos e faz com que a economia avance, mesmo em meio às crises.


Legado de Mises para o empreendedorismo

A visão de Mises ajudou a consolidar a Escola Austríaca como uma tradição intelectual que valoriza o indivíduo, a liberdade econômica e a iniciativa empreendedora.

No Brasil, esse pensamento ressoa especialmente em um contexto de burocracia pesada e intervencionismo estatal: o empreendedor brasileiro, ao enfrentar barreiras, encarna de forma ainda mais evidente a concepção misesiana de agente que ousa agir em meio à incerteza.

Mises para o empreendedorismo

Sua obra influenciou não apenas a economia teórica, mas também políticas públicas e movimentos em defesa da liberdade econômica. Ao colocar o empreendedor no centro, Mises nos lembra que o progresso não nasce de decretos governamentais, mas da ação criativa de indivíduos livres.


Conclusão

Ludwig von Mises foi mais do que um economista: foi um pensador da liberdade e da coragem humana. Sua ênfase no empreendedor como figura central da ação econômica permanece atual e necessária.

Num mundo cada vez mais instável, a lição misesiana ecoa com força: quem ousa empreender em meio à incerteza não apenas busca lucro, mas ajuda a escrever a história do desenvolvimento econômico e da prosperidade social.

Bom trabalho e grande abraço,
Rafael José Pôncio.




        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Definições de Características Empreendedoras (por pesquisadores PhDs do assunto)


Aqui estão as principais características do empreendedor atribuídas por diversos autores ao longo do tempo, podemos observar que estes estudiosos atribuem semelhanças nesta linha do tempo independentemente de ciclos econômicos e mudanças globais, vejamos:

AnoAutorAlgumas definições de características em épocas
1848MillAssumir riscos.
1917WeberAutoridade formal.
1934SchumpeterInovação, iniciativa.
1954SuttonDesejo de responsabilidade.
1959HartmanAutoridade formal.
1961McClellandAssumir riscos, necessidade de realização, otimismo,
relacionamento (afiliação), poder, autoconsciência.
1963DavidsAmbição, desejo de independência, responsabilidade,
autoconfiança.
1964PickleFoco, relacionamento, habilidade de comunicação,
conhecimento técnico.
1969GouldPercepção de oportunidade, motivado pela realização.
1969Wainer & RubinRealização, poder e afiliação.
1970Collins & MooreSatisfação e prazer pelo que faz.
1970Hornaday & BunkerNecessidade de realização, inteligência, criatividade,
iniciativa, liderança, desejo de ganhar dinheiro,
desejo de reconhecimento, orientado à realização,
poder e tolerância às incertezas.
1971PalmerMensuração do risco.
1971Hornaday & AboudNecessidade de realização, autonomia/independência,
histórico familiar, agressividade, poder, reconhecimento,
inovação, independência.
1972DraheimExperiência, credibilidade.
1972HowellInfluências (modelos de referência).
1973WinterNecessidade de poder.
1974BorlandAutocontrole.
1974LilesNecessidade de realização.
1977GasseOrientado a valores pessoais.
1978TimmonsFoco/centrado, autoconfiança, orientado a meta,
risco calculado, autocontrole, criatividade, inovação.
1979DeCarlo & LyonsRealização, independência e liderança.
1980BrockhausPropensão a assumir riscos
1980Hull, Bosley & UdellInteresse em fama e dinheiro, autocontrole, propensão a assumir riscos, criatividade, realização.
1980SextonEnergia/ambição, reação positiva ao fracasso (superação).
1981Hisrich & O'BrienAutodisciplina, perseverança, desejo de sucesso,
orientado pela ação, orientado a metas.
1981Mescon & MontanariRealização, autonomia, dominância, controle, organização.
1981Welsch & WhiteNecessidade de controlar, busca por responsabilidade,
autoconfiança, assume desafios, risco calculado.
1982Dunkelberg & CooperOrientado ao crescimento, senso de independência,
especialização.
1982Welsch e YoungAutocontrole, maquiavelismo, auto-estima, assume riscos,
aberto a inovação, otimismo.


Para a pessoa que deseja empreender ou na organização da qual quer desenvolver a cultura empreendedora, é necessário compreender as melhores práticas das ciências humanas, do auto conhecer-se e  analisar forças, fraquezas, potencialidades, dons e competências, buscando incessantemente o auto-conhecimento voltado ao empreendedorismo e gestão.
Bom trabalho e grande abraço.
Rafael José Pôncio


        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.