Ludwig von Mises destacou o empreendedor como agente central da ação humana, essencial para entender incerteza, risco e prosperidade econômica.
Ludwig von Mises: vida e trajetória intelectual
Ludwig Heinrich Edler von Mises nasceu em 29 de setembro de 1881, em Lemberg, no então Império Austro-Húngaro (atual Lviv, Ucrânia). Proveniente de uma família judaica de classe média-alta, Mises teve acesso a uma educação sólida desde cedo, desenvolvendo grande interesse por história, filosofia e economia.
Estudou Direito e Economia na Universidade de Viena, onde teve contato com a obra de Carl Menger, fundador da Escola Austríaca, e foi profundamente influenciado por Eugen von Böhm-Bawerk e Friedrich von Wieser. Sua carreira acadêmica floresceu em Viena, mas, devido à ascensão do nazismo e às perseguições contra judeus, Mises deixou a Áustria em 1934, vivendo em Genebra até emigrar para os Estados Unidos em 1940.
Nos Estados Unidos, tornou-se professor na New York University, onde, apesar de não ocupar uma cátedra oficial, conduziu seminários que reuniram jovens economistas — entre eles, Israel Kirzner, que mais tarde aprofundaria a visão austríaca do empreendedor.
Mises faleceu em 1973, deixando um legado monumental para a teoria econômica e para a defesa da liberdade individual.
A contribuição teórica de Mises
A obra mais importante de Mises é Ação Humana: Um Tratado de Economia (1949), onde desenvolveu a praxeologia, isto é, a ciência da ação humana. Para ele, toda atividade econômica se origina em uma decisão humana, carregada de expectativas sobre o futuro. Assim, a economia não pode ser reduzida a números estáticos, mas deve ser entendida como um processo dinâmico de escolhas em condições de incerteza.
Conheça a obra Ação Humana de Mises aqui disponível em pdf.
Essa perspectiva diferenciava Mises dos economistas de sua época, que buscavam fórmulas matemáticas de equilíbrio. Em vez disso, ele insistia que a economia é movida por indivíduos que agem, erram, aprendem e descobrem.
O empreendedor na visão de Mises
Dentro da praxeologia, o empreendedor é uma figura essencial. Para Mises, todo indivíduo que age em condições de incerteza é, em alguma medida, empreendedor.
O empreendedor não apenas calcula, mas arrisca, porque suas decisões estão voltadas ao futuro, que nunca é plenamente conhecido.
Ele combina recursos, avalia preços e expectativas, sempre na tentativa de satisfazer necessidades humanas de maneira mais eficiente.
Ao contrário de uma visão mecanicista, Mises mostra que o empreendedor é insubstituível: não existe fórmula matemática capaz de reproduzir a sensibilidade humana diante da incerteza.
O mercado, portanto, não é uma engrenagem impessoal: ele é construído pela ação contínua de empreendedores que arriscam e inovam. É nesse processo que surge a coordenação econômica e, em última instância, o progresso social.
Na perspectiva de Ludwig von Mises, o empreendedor representa a função central do processo de mercado, pois ao agir sob incerteza orienta recursos escassos em direção às necessidades humanas.
O empreendedor como herói da incerteza
Mises rompe com a ideia de que o empreendedor é apenas um “capitalista” ou um “gestor”. Para ele, o empreendedor é um herói da incerteza. Age sem garantias, guiado pela esperança de lucro, mas também sujeito ao risco de prejuízo. Essa função, longe de ser marginal, é o coração do processo de mercado.
Nas palavras de Mises, o empreendedor é o responsável por direcionar os fatores de produção conforme as preferências dos consumidores. É ele quem ajusta erros, experimenta novos caminhos e faz com que a economia avance, mesmo em meio às crises.
Legado de Mises para o empreendedorismo
A visão de Mises ajudou a consolidar a Escola Austríaca como uma tradição intelectual que valoriza o indivíduo, a liberdade econômica e a iniciativa empreendedora.
No Brasil, esse pensamento ressoa especialmente em um contexto de burocracia pesada e intervencionismo estatal: o empreendedor brasileiro, ao enfrentar barreiras, encarna de forma ainda mais evidente a concepção misesiana de agente que ousa agir em meio à incerteza.
Sua obra influenciou não apenas a economia teórica, mas também políticas públicas e movimentos em defesa da liberdade econômica. Ao colocar o empreendedor no centro, Mises nos lembra que o progresso não nasce de decretos governamentais, mas da ação criativa de indivíduos livres.
Conclusão
Ludwig von Mises foi mais do que um economista: foi um pensador da liberdade e da coragem humana. Sua ênfase no empreendedor como figura central da ação econômica permanece atual e necessária.
Num mundo cada vez mais instável, a lição misesiana ecoa com força: quem ousa empreender em meio à incerteza não apenas busca lucro, mas ajuda a escrever a história do desenvolvimento econômico e da prosperidade social.
Bom trabalho e grande abraço,
Rafael José Pôncio.