terça-feira, 21 de outubro de 2025

Project Model Canvas: Planejamento e Gestão de Projetos

 

Project Model Canvas

Criador da Ferramenta

O Project Model Canvas foi desenvolvido por José Finocchio Junior, engenheiro e professor brasileiro com larga experiência em gerenciamento de projetos. Inspirado no famoso Business Model Canvas de Alexander Osterwalder, Finocchio adaptou o modelo para o contexto específico da gestão de projetos, trazendo uma visão inovadora, prática e altamente visual para estruturar e comunicar projetos com clareza.


Importância e Vantagens do Project Model Canvas

A aplicabilidade do Project Model Canvas tornou-se um divisor de águas em diversas organizações, universidades e ambientes empreendedores por permitir:

  • ✅ Visualização rápida e sistêmica do projeto em uma única página;

  • ✅ Alinhamento de expectativas entre stakeholders;

  • ✅ Facilidade de compreensão por equipes multidisciplinares;

  • ✅ Foco em comunicação clara e engajamento coletivo;

  • ✅ Tomada de decisão mais ágil, com menos retrabalho;

  • ✅ Alta aplicabilidade desde startups até grandes corporações.

Em tempos de alta competitividade, ter uma ferramenta simples, mas poderosa, é um diferencial para colocar ideias em prática com menor risco e maior previsibilidade.


Como Implantar: Fundamentos e Cotidiano Organizacional

1. Capacitação Inicial

O primeiro passo é capacitar os envolvidos. O ideal é realizar workshops práticos com o time para que todos compreendam as 13 dimensões do Canvas e saibam usá-las de forma colaborativa.

2. Escolha de Projetos-Piloto

É recomendável iniciar com projetos de porte médio ou pequeno, onde a equipe possa experimentar a ferramenta sem grandes impactos organizacionais em caso de ajustes.

3. Aplicação Coletiva

O preenchimento do Canvas deve ser feito em equipe, promovendo o senso de propriedade e engajamento. Usualmente, é utilizado um quadro branco ou versão digital com post-its coloridos.

4. Integração com o Dia a Dia

Após implantado, o Canvas se torna um documento vivo, que acompanha o projeto em reuniões, monitoramentos e avaliações. Pode ser integrado com cronogramas, PMOs e ferramentas de gestão ágil (como Trello, Asana ou Jira).


Geração de Valor para a Organização

Ao gerar clareza, foco e senso de direção, o Project Model Canvas impacta diretamente no desempenho organizacional. Empresas que o utilizam relatam:

  • 💡 Redução de falhas de comunicação;

  • 💡 Maior previsibilidade e controle;

  • 💡 Decisões estratégicas mais bem fundamentadas;

  • 💡 Economia de tempo e recursos;

  • 💡 Inovação com mais segurança.

Além disso, ele democratiza o conhecimento em projetos, permitindo que até colaboradores sem formação em gestão compreendam os caminhos de um projeto do início ao fim.


Modelo Passo a Passo: As 13 Dimensões do Project Model Canvas

A estrutura do Project Model Canvas é composta por 13 blocos-chave, dispostos de forma visual e sequencial. Abaixo, explico o preenchimento ideal de cada item:

  1. Justificativa: Por que o projeto deve ser feito? Quais problemas ou oportunidades motivam sua execução?

  2. Objetivos: O que se pretende alcançar? Devem ser específicos e mensuráveis.

  3. Produto Final: Qual é o entregável principal do projeto?

  4. Benefícios: Quais ganhos o projeto trará? (financeiros, estratégicos, operacionais, sociais etc.)

  5. Requisitos: O que o produto final precisa ter? São as características mínimas.

  6. Partes Interessadas: Quem são os envolvidos? (clientes, equipe, fornecedores, patrocinadores)

  7. Equipe: Quem estará na execução do projeto? Qual a função de cada um?

  8. Premissas: Quais condições são tidas como verdadeiras, mas não estão garantidas?

  9. Restrições: Quais limitações de tempo, orçamento ou escopo existem?

  10. Grupo de Entregas: Quais são os marcos principais ou fases do projeto?

  11. Linha do Tempo: Cronograma básico com prazos.

  12. Custos: Estimativas iniciais de investimento necessário.

  13. Riscos: Quais incertezas podem impactar negativamente o projeto?


Considerações Finais

O Project Model Canvas é mais do que uma ferramenta visual: é uma filosofia de simplificação na gestão de projetos. Por permitir uma visão completa em uma só página, ele promove integração, alinhamento e foco estratégico — características vitais em qualquer organização que deseja competir em alto nível.

A sua aplicabilidade tanto em grandes empresas quanto em startups, ONGs, órgãos públicos ou projetos acadêmicos o transforma em um verdadeiro coringa para gestores e empreendedores modernos.

Bom trabalho e grande abraço.

Rafael José Pôncio, PROF. ADM.



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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Poka-Yoke: prevenção de erros nos processos

Poka-Yoke: prevenção de erros nos processos

Descubra como o Poka-Yoke evita falhas humanas, reduz custos e melhora a qualidade nos processos. Conheça sua origem, aplicações e vantagens.



Poka-Yoke: prevenção de erros nos processos


O que é o Poka-Yoke?

O Poka-Yoke é uma ferramenta da administração que tem como objetivo prevenir falhas humanas nos processos produtivos. O termo vem do japonês e significa “à prova de erros” (poka = erro inadvertido; yokeru = evitar). A proposta é eliminar ou reduzir ao máximo a possibilidade de erro, muitas vezes por meio de soluções simples e baratas.

Quem criou o Poka-Yoke?

A ferramenta foi criada por Shigeo Shingo, engenheiro industrial japonês, durante seu trabalho na Toyota, como parte do sistema Toyota Production System (TPS). Ela surgiu na década de 1960 com o propósito de aprimorar os processos de produção por meio de dispositivos que evitassem falhas desde o início da operação.

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Shingo defendia que a causa de muitos defeitos está no erro humano e que, se esses erros forem prevenidos, os defeitos não ocorrerão. Daí surgiu o Poka-Yoke como solução de qualidade baseada na prevenção e não apenas na detecção de falhas.



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Fundamentos e princípios

Os fundamentos do Poka-Yoke estão baseados em:

  • Prevenção de erros: impedir que o erro aconteça.

  • Detecção imediata: se o erro ocorrer, que seja identificado de forma automática e imediata.

  • Simplicidade e eficácia: mecanismos simples que reduzem a dependência da atenção humana.

Como funciona o Poka-Yoke na prática

Um sistema Poka-Yoke pode atuar de três formas principais:

  1. Prevenção (prevention) – o erro não acontece porque o sistema impede.

  2. Advertência (warning) – um alarme, luz ou som indica o erro potencial.

  3. Detecção (detection) – o erro é identificado e o sistema interrompe a produção ou sinaliza a falha.

Exemplos simples:

  • Uma tomada elétrica com pinos assimétricos, para impedir a conexão incorreta.

  • Impressoras que não funcionam se a tampa do toner estiver aberta.

  • Caixas de embalagem que só liberam o próximo item após o correto preenchimento do anterior.

exemplos-de-poka-yoke

Vantagens do Poka-Yoke

Implementar o Poka-Yoke traz diversos benefícios, como:

  • Redução de retrabalho e desperdício.

  • Melhoria da qualidade do produto final.

  • Aumento da segurança operacional.

  • Menor custo com inspeções e controle de qualidade.

  • Aumento da confiança nos processos automatizados.

Como implantar o Poka-Yoke

A implementação pode seguir os passos abaixo:

  1. Identifique os pontos de falha humana no processo.

  2. Classifique os erros mais recorrentes e suas causas.

  3. Desenvolva soluções simples para prevenir ou detectar falhas.

  4. Implemente o dispositivo Poka-Yoke (sensor, alarme, forma física, etc.).

  5. Teste o sistema em operação para avaliar sua eficácia.

  6. Treine os operadores para compreenderem e colaborarem com o dispositivo.

  7. Acompanhe os indicadores de falhas e retrabalho para monitoramento contínuo.

Monitoramento e melhoria contínua

Após a implantação, o Poka-Yoke deve ser monitorado constantemente. Isso envolve:

  • Acompanhamento de indicadores de qualidade.

  • Revisão periódica dos pontos de falha.

  • Inclusão de melhorias progressivas, sempre que um novo erro for identificado.

  • Integração com outras ferramentas da qualidade, como Kaizen, 5S e PDCA.

Aplicações em diferentes setores

Embora originado na indústria automobilística, o Poka-Yoke pode ser aplicado em:

  • Indústrias de alimentos e bebidas (medidas e rótulos corretos).

  • Serviços de saúde (etiquetagem de medicamentos, procedimentos cirúrgicos).

  • Varejo e logística (evitar falhas na separação de pedidos).

  • Educação e serviços administrativos (formulários digitais com validação).

Aqui outro exemplo nesta figura:

exemplo-poka-yoke

Isso demonstra que o Poka-Yoke transcende a indústria automobilística, sendo uma filosofia de prevenção de erros aplicável a qualquer setor que exija confiabilidade, segurança e qualidade.



Conclusão

O Poka-Yoke é uma ferramenta essencial para qualquer organização que valorize a qualidade, a segurança e a eficiência. Sua força está na simplicidade com que evita erros que poderiam comprometer todo o processo. Com sua aplicação, gestores reduzem falhas humanas, custos operacionais e fortalecem a cultura da qualidade em suas equipes.

Bom trabalho e grande abraço.
Rafael José Pôncio, PROF. ADM.


        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Max Feffer: uniu papel, floresta e propósito no Grupo Suzano

Max Feffer: uniu papel, floresta e propósito no Grupo Suzano

"Descubra a visão estratégica de Max Feffer, líder do Grupo Suzano, e seu impacto duradouro na indústria de papel e celulose no Brasil."

Introdução

Na interseção entre tradição familiar, visão empresarial e compromisso com o futuro sustentável, está a trajetória de Max Feffer, um dos nomes mais influentes da indústria brasileira de papel e celulose. Líder do Grupo Suzano, ele representa a rara combinação entre empreendedorismo moderno e consciência socioambiental, transformando herança em inovação, e empresa em agente de transformação.


Sucessor de visão, não de zona de conforto

Max Feffer é filho de Leon Feffer, o imigrante judeu que fundou a Suzano em 1924. Cresceu imerso no ambiente industrial, mas nunca se contentou em apenas manter o que recebeu. Com formação sólida e pensamento estratégico, assumiu a missão de levar a empresa a um novo patamar de inovação, sustentabilidade e internacionalização.

Ele compreendia que o verdadeiro legado não está no lucro preservado, mas na visão ampliada.


Um líder que transformou floresta em valor econômico e ambiental

Max foi um dos principais responsáveis por consolidar o modelo de florestas plantadas de eucalipto, defendendo que a produção de papel não precisava destruir o meio ambiente para prosperar. Com isso, a Suzano tornou-se referência global em sustentabilidade florestal, aliando:

  • Rigor técnico;

  • Ciência aplicada à silvicultura;

  • Proteção à biodiversidade;

  • Investimentos em inovação social nas comunidades vizinhas.

Sua atuação foi decisiva para posicionar o Brasil como potência mundial na produção de celulose de forma renovável e sustentável.

Fábrica da cidade de Suzano (SP) 1950
Fábrica da cidade de Suzano (SP) 1950, fonte: https://www.suzano.com.br


Virtudes e características empreendedoras de Max Feffer

Visão sistêmica – Enxergava a empresa como parte de um ecossistema econômico, social e ambiental.

Compromisso com a sustentabilidade – Liderou a Suzano com base em responsabilidade ecológica muito antes do ESG virar tendência.

Inovação contínua – Incentivou pesquisa aplicada, novos produtos a partir do eucalipto e parcerias com universidades.

Gestão humanista – Valorizava o diálogo com colaboradores e a inclusão de diversidade na cultura organizacional.

Espírito transformador – Acreditava que o setor privado tem um papel protagonista no combate às desigualdades sociais.

Max Feffer provou que empresas podem crescer como florestas: com raízes sólidas, galhos inovadores e frutos que beneficiam gerações.


Um empresário discreto, mas com legado profundo

Ao contrário de muitos executivos da elite industrial, Max Feffer era reservado, avesso aos holofotes, mas profundamente atuante. Foi fundador da Associação Brasileira de Celulose e Papel, membro de conselhos, defensor da filantropia estratégica e incentivador de projetos culturais e ambientais.

Sua atuação também envolveu iniciativas sociais por meio da Fundação Arymax, criada por sua família, e com foco em educação, empreendedorismo e inclusão social.


Lições de Max Feffer para os empreendedores de hoje

📌 Um negócio só é grande quando cuida do futuro que ajuda a construir;

📌 Ter propósito é tão estratégico quanto ter lucro;

📌 A tradição familiar pode ser trampolim para inovação;

📌 Liderar com ética é mais importante que liderar com pressa;

📌 Crescimento sustentável começa na raiz — tanto na floresta quanto na cultura da empresa.

Max Feffer Grupo Suzano
Foto: Instituto Jatobas
Ao unir papel, floresta e propósito, Max Feffer transformou a Suzano em um exemplo de que negócio e sustentabilidade podem caminhar lado a lado.


Curiosidades

  • Max Feffer é um dos responsáveis pela internacionalização da Suzano, tornando-a uma das maiores exportadoras do Brasil.

  • Sob sua influência, a empresa passou a atuar em frentes como bioprodutos, economia circular e inovação verde.

  • Foi também um colecionador e patrono das artes, apoiando museus e movimentos culturais.

  • Manteve o legado de seu pai, Leon, não apenas nos negócios, mas na ética judaica de trabalho, justiça e filantropia.

Max Feffer o filamtropo
Foto: Instituto Jatobas
Para Max Feffer, a verdadeira filantropia não era assistencialismo, mas a semente que gera autonomia e transforma comunidades para sempre.


Conclusão

Max Feffer é um dos raros exemplos de liderança que inspira pela coerência entre valores, visão e ação. Ele não apenas conduziu um grupo industrial à liderança mundial, mas mostrou que é possível crescer respeitando o planeta, valorizando pessoas e investindo no amanhã. Seu nome está para sempre associado à floresta que se regenera, ao papel que transforma e ao Brasil que sonha grande com responsabilidade.


Inspire-se com quem plantou futuro e colheu propósito

A história transformadora de Max Feffer, o líder que uniu florestas e pessoas para construir um Brasil mais sustentável, está no livro Os Empreendedores que Mudaram o Brasil – Volume 2, publicado pela Editora Labrador, uma obra do autor Rafael José Pôncio.

📘 Uma leitura essencial para quem acredita que empreender também é cuidar da terra, das pessoas e do amanhã.

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domingo, 5 de outubro de 2025

A Escola de Salamanca e a gênese da economia liberal

A Escola de Salamanca e a gênese da economia liberal

A Escola de Salamanca inaugurou princípios econômicos e morais que originaram o liberalismo e inspiraram a Escola Austríaca de Economia.



A gênese intelectual da Escola de Salamanca

A Escola de Salamanca representa um dos capítulos mais significativos da história do pensamento econômico ocidental.

Originada no século XVI, dentro da Universidade de Salamanca, na Espanha, ela nasceu de uma tentativa ousada de reconciliar a teologia moral com as novas realidades econômicas e comerciais trazidas pela expansão marítima e pelo início do capitalismo moderno.

Os teólogos e juristas salmantinos, herdeiros do tomismo de São Tomás de Aquino, inauguraram um modo racional e científico de compreender a ação humana — antecipando princípios que, séculos depois, formariam o núcleo da Escola Austríaca de Economia.



O contexto europeu do século XVI

A Europa do Renascimento vivia uma transformação sem precedentes.

As Grandes Navegações abriram novas rotas comerciais, o *ouro americano inundava a Espanha, e a Reforma Protestante questionava a autoridade eclesiástica.

Nesse cenário, surgia a necessidade de repensar moralmente o comércio, o lucro, os juros e a propriedade privada, temas até então vistos sob desconfiança teológica.

A Universidade de Salamanca, centro de saber e de debate, tornou-se o espaço privilegiado dessa renovação. Ali floresceu uma geração de pensadores que aplicou a razão natural ao campo econômico, defendendo que as leis do mercado não eram apenas fatos empíricos, mas expressões legítimas da liberdade humana.

*O “ouro americano” era o metal precioso trazido das colônias espanholas da América, cuja abundância causou inflação na Europa e despertou, entre os teólogos da Escola de Salamanca, as primeiras reflexões sistemáticas sobre o valor do dinheiro, os preços e a moralidade econômica.



O núcleo intelectual de Salamanca

Entre os principais nomes, destacam-se:

  • Francisco de Vitoria (1483–1546) – considerado o fundador da escola. Defendeu a ideia de um direito natural universal, aplicável a todos os povos, e a legitimidade do comércio pacífico entre nações.

  • Domingo de Soto (1494–1560) – introduziu reflexões pioneiras sobre justiça econômica, contratos e formação de preços.

  • Martín de Azpilcueta (1491–1586) – antecipou a teoria quantitativa da moeda, relacionando a expansão do ouro ao aumento dos preços, um dos primeiros estudos sobre inflação.

  • Luis de Molina (1535–1600) – formulou a teoria da liberdade humana e argumentou que o valor surge da utilidade percebida pelo indivíduo.

  • Juan de Mariana (1536–1624) – defendeu os limites do poder político e a legitimidade da resistência contra governos tirânicos.

O núcleo intelectual de Salamanca

Esses autores criaram uma verdadeira síntese entre ética, razão e economia, marcando o nascimento da economia política moral.



Fundamentos filosóficos e teológicos

A base da Escola de Salamanca repousa sobre o direito natural — uma ordem racional inscrita na natureza e acessível pela razão.

A economia, para esses pensadores, não era uma mera técnica de acumulação, mas um campo da ação moral humana, sujeito à justiça e à virtude.

Inspirados em Tomás de Aquino, afirmavam que:

  • a liberdade de escolha é um atributo da vontade racional;

  • a propriedade privada é legítima como meio de preservação da vida e do bem comum;

  • e o mercado é um espaço natural de cooperação entre indivíduos livres.

Essa visão ético-racional substituiu a economia do pecado por uma economia da responsabilidade, em que o indivíduo age livremente dentro da ordem moral criada por Deus.



A economia como extensão da moral

Os salmantinos romperam com a visão medieval que via o lucro como suspeito.
Defenderam que:

  • o preço justo não é imposto pelo Estado, mas determinado pela oferta e demanda;

  • o lucro é compensação pelo risco e pela habilidade empresarial;

  • e o juro pode ser moralmente legítimo, como remuneração do capital.

Esses conceitos deslocaram a análise econômica da moral ascética para uma moral racional — abrindo caminho para o individualismo econômico que mais tarde influenciaria Adam Smith e os austríacos.



A teoria monetária e o papel do dinheiro

Martín de Azpilcueta foi pioneiro ao perceber que o aumento da quantidade de dinheiro circulante reduzia seu valor, provocando inflação.

Sua observação, derivada da experiência espanhola com o ouro das Américas, deu origem ao princípio que séculos depois seria formalizado como Teoria Quantitativa da Moeda.

Essa descoberta mostra que a Escola de Salamanca já intuía leis econômicas universais, dedutíveis pela razão e observáveis na experiência — exatamente o método que Carl Menger chamaria de praxeologia no século XIX.


    
Da moral ao mercado: a transição intelectual

A Escola de Salamanca transformou a economia em uma ciência da ação humana.
Ao reconhecer que o valor nasce das preferências individuais, e não de decretos morais, os salmantinos abriram o caminho para a subjetividade do valor, fundamento da teoria austríaca.

Essa transição — da teologia moral ao estudo racional da escolha — marca o início da economia como disciplina autônoma, guiada pela lógica da ação e pelo princípio da liberdade.

Convergências com a Escola Austríaca de Economia

Aspecto

Escola de Salamanca
(séc. XVI)

Escola Austríaca (séc. XIX–XX)


Liberalismo Clássico
(séc. XVIII)

Fundamento do Valor

Utilidade e escassez percebidas


Valor subjetivo e preferência temporal

Trabalho e custo de produção

Método


Ético-dedutivo, com base na razão natural

Dedutivo e praxeológico

Empírico e utilitarista

Visão do Indivíduo

Ser racional e moral


Agente que age conforme fins e meios

Homo economicus racional

Estado e Mercado


Intervenção mínima, respeito à liberdade contratual

Defesa do livre mercado e da ordem espontânea

Defesa das instituições naturais do comércio

Moralidade
do Lucro

Justificada pelo risco e esforço


Expressão da coordenação eficiente do mercado

Resultado da livre concorrência

Legado


Raízes do direito natural e da ética econômica

Teoria da ação humana e da ordem espontânea

Consolidação do capitalismo liberal

Esse quadro demonstra a continuidade intelectual entre Salamanca, o Liberalismo Clássico e a Escola Austríaca — três momentos de uma mesma tradição de liberdade.



Legado e permanência

O impacto salmantino ultrapassou séculos.

No direito, inspirou o nascimento do direito internacional público, especialmente pelas obras de Francisco de Vitoria.

Na economia, lançou os alicerces da teoria subjetiva do valor e do livre mercado.

E na ética, firmou a ideia de que toda ação econômica deve respeitar a dignidade humana.

Liberalismo Clássico

No Brasil, esse legado se manifesta na atuação de instituições como o Instituto Mises Brasil, o Instituto Liberal e o IFL, que retomam o ideal de uma economia ética e livre, fiel às origens morais de Salamanca.



Conclusão: uma escola que não envelhece

A Escola de Salamanca foi mais do que um movimento teológico: foi o berço da economia liberal e o elo perdido entre a filosofia moral e a ciência econômica.

Ao defender que o valor nasce da escolha humana e que a liberdade é um atributo da dignidade, os salmantinos anteciparam séculos de debate sobre o papel do indivíduo na sociedade.

Suas lições ecoam em Menger, Mises e Hayek, mas também em toda visão de economia que respeite a liberdade, a moral e a razão.

Hoje, revisitar Salamanca é redescobrir a origem ética da economia de mercado — uma herança que transcende o tempo e continua a moldar as bases da civilização ocidental.


A Escola de Salamanca mostrou que a liberdade não é apenas um direito econômico, mas a expressão mais nobre da razão humana em busca do bem comum. (Rafael José Pôncio)


Conclusão: uma escola que não envelhece

Escola de Salamanca foi mais do que um movimento teológico: foi o berço da economia liberal e o elo perdido entre a filosofia moral e a ciência econômica.

Ao defender que o valor nasce da escolha humana e que a liberdade é um atributo da dignidade, os salmantinos anteciparam séculos de debate sobre o papel do indivíduo na sociedade.

Suas lições ecoam em Menger, Mises e Hayek, mas também em toda visão de economia que respeite a liberdade, a moral e a razão.

Hoje, revisitar Salamanca é redescobrir a origem ética da economia de mercado — uma herança que transcende o tempo e continua a moldar as bases da civilização ocidental.

Bom trabalho e grande abraço.
Rafael José Pôncio, PROF. ADM.


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