quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Teoria das Relações Humanas: como praticar na atualidade?

A Teoria das Relações Humanas surgiu em 1927, mas seus ensinamentos têm impactos até hoje nas organizações. Para saber quais são, continue a leitura.

Teoria das Relações Humanas: como praticar na atualidade?

A Teoria das Relações Humanas ou Escola das Relações Humanas surgiu como uma oposição à Teoria Clássica da Administração, onde a organização é uma máquina.

Hoje sabemos que não é só isso, além dos processos, as pessoas são um aspecto primordial para o sucesso de um negócio.

Para entender melhor,  continue a leitura e aprenda sobre a parte humana das organizações. 

Como surgiu a Teoria das Relações Humanas?

A Teoria das Relações Humanas surgiu a partir da famosa pesquisa realizada na fábrica da Western Eletric Company em Chicago nos Estados Unidos: o Experimento de Hawthorne.

A experiência aconteceu em 1927, coordenada pelo psicólogo e pesquisador australiano Elton Mayo, considerado fundador da Teoria das Relações Humanas.

As principais conclusões neste estudo, segundo o escritor Idalberto Chiavenato no livro Introdução à Teoria Geral da Administração - Uma Visão Abrangente da Moderna Administração das Organizações, foram:

1.   O nível de produção é resultante da integração social

Quanto mais o colaborador estiver integrado à equipe, melhor será a sua produtividade. Não é difícil perceber que quando você se dá bem com os colegas o trabalho flui mais fácil.

2.   As relações humanas

O comportamento de um funcionário pode influenciar o dos demais. É como diz o ditado “uma maçã podre no cesto estraga todas as outras”.

3.   Comportamento social dos empregados

Os trabalhadores reagem conforme os demais membros do grupo. Por exemplo: se um vendedor tem uma quantidade de vendas inferior aos demais colaboradores, ele fará o possível para alcançar a média da equipe.

4.   A importância do conteúdo do cargo

Um trabalho maçante e repetitivo pode afetar negativamente o colaborador e ele acabar diminuindo o seu desempenho.

5.   As recompensas e sanções sociais

Os funcionários podem tomar atitudes “negativas” para serem aceitos pelo grupo. Por exemplo: um vendedor que recebe uma comissão muito maior que os seus colegas, pode diminuir a sua produtividade para não ser excluído da equipe.

6.   Grupos informais

Além dos grupos estabelecidos pelo organograma (setor de marketing, financeiro, RH, etc.) existem os grupos informais que também influenciam no andamento da empresa. Por exemplo: os colaboradores que almoçam juntos, e ainda a turma do happy hour.

7.   Ênfase nos aspectos emocionais

Elementos emocionais e irracionais dos seres humanos também devem ser considerados pelas empresas.

 Por essa razão o Mayo defendia os seguintes pontos de vista:

  • O trabalho é uma atividade tipicamente grupal.

  • O operário não reage como indivíduo isolado.

  • A tarefa básica da administração é formar uma elite capaz de compreender e comunicar. 

  • A pessoa humana é motivada pela necessidade de “estar junto” e de ser “reconhecida”. 

  • A civilização industrializada traz como consequência a desintegração dos grupos primários da sociedade.

Como praticar a Teorias das Relações Humanas hoje?

Embora, esta teoria tenha surgido há quase 100 anos, muitos conhecimentos podem ser aplicados no mundo dos negócios atual. Veja algumas maneiras:

Ergonomia

A ergonomia se preocupa em fornecer um ambiente saudável e seguro para os colaboradores trabalharem. Por exemplo: cadeiras confortáveis, suporte para computadores, apoio para pés…

No Experimento de Hawthorne foi identificado que a intensidade da luz alterava a produção dos funcionários. Quando a luz estava mais forte os funcionários acreditavam que deveriam produzir mais e quando diminuía, o contrário.

Então, fornecer um ambiente seguro e que não cause riscos à saúde dos funcionários, além de ser uma obrigação legal é fundamental para o desempenho dos colaboradores.

Pesquisas de Clima

Como vimos, na Teoria das Relações Humanas a interação das equipes é essencial para o bom desempenho dos funcionários.

Por isso, fazer pesquisas de clima de forma recorrente é uma estratégia para identificar se algum empregado não está se sentindo acolhido ou não consegue interagir com a equipe.

Também é uma ótima estratégia para identificar se um membro da equipe está desmotivado ou não concorda com os rumos da empresa.

Reuniões e feedbacks

Fazer reuniões com os funcionários para discutir melhorias, os resultados e as ações futuras, é importante para que eles se sintam valorizados e respeitados.

Também é importante elogiar os bons resultados e estar aberto às críticas e sugestões dos colaboradores.

Promover ações de confraternização

Como identificado na Teoria das Relações Humanas, o aspecto emocional dos funcionários impacta significativamente nos resultados.

Logo, criar ações como comemorações de aniversário, celebrações quando alcançam as metas ou até enfeitar o escritório em datas festivas, tornam ele mais aconchegante e fazem os colaboradores se sentirem melhor.

Incentivar a autonomia dos empregados

Também no Experimento de Hawthorne após entrevistas com os funcionários identificou-se que eles se sentiam constrangidos em uma supervisão vigilante.

O que faz muito sentido, afinal, o papel de um líder é orientar e não vigiar a equipe, dando as ferramentas necessárias para o desenvolvimento do trabalho.

Logo, incentivar que os colaboradores tomem as suas decisões é uma ótima estratégia para melhorar o desempenho.

Oferecer benefícios aos colaboradores

Para os funcionários se sentirem reconhecidos eles precisam ser beneficiados de alguma forma pelo seu esforço e resultados.

O primeiro benefício é o feedback positivo do gestor. O segundo pode ser um benefício simbólico, como um cartão de agradecimento e um chocolate. Por último um retorno financeiro.

Vale destacar que estas vantagens são apenas o resultado de uma cultura organizacional que valoriza os funcionários e não só “algo simbólico”.

Empresas bem sucedidas que aplicam a Teoria das Relações Humanas

Conheça negócios que focam na interação e valorização dos funcionários:

DreamWorks

O estúdio de animação americano oferece muitos benefícios para os seus funcionários, dentre eles estão:

  • Ambiente inspirador com espaços abertos e estações de trabalho personalizadas.

  • Aulas de exercícios físicos.

  • Incentiva a autonomia e a liberdade de criação dos colaboradores.

Google

Nesta empresa o ambiente de trabalho é referência, lá os funcionários contam com várias regalias, seguem alguns exemplos:

Uma geladeira aberta: os funcionários podem almoçar, jantar ou fazer lanches na empresa de maneira gratuita.

Pet friendly: os colaboradores podem levar os seus animais de estimação para o escritório.

Férias prolongadas: além das férias tradicionais, os funcionários do Google têm direito a 3 meses de licença não remunerada.

Coca-cola

Esta grande companhia acredita que o sucesso dos negócios está diretamente relacionado ao bem-estar dos funcionários, por isso tem muitas ações de valorização, como:

  • Flexibilização do horário de trabalho.

  • Prêmios e bonificações.

  • Anywhere work (trabalho em qualquer lugar).

  • Programas de incentivo aos estudos.

  • Plano de carreira.

Então, o que achou da Teoria das Relações Humanas?  Já aplica os seus ensinamentos no seu negócio?

Bom trabalho e grande abraço.

Rafael José Pôncio




Conheça também:


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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Ludwig von Mises e a visão austríaca do empreendedor

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Ludwig von Mises destacou o empreendedor como agente central da ação humana, essencial para entender incerteza, risco e prosperidade econômica.


Ludwig von Mises: vida e trajetória intelectual

Ludwig Heinrich Edler von Mises nasceu em 29 de setembro de 1881, em Lemberg, no então Império Austro-Húngaro (atual Lviv, Ucrânia). Proveniente de uma família judaica de classe média-alta, Mises teve acesso a uma educação sólida desde cedo, desenvolvendo grande interesse por história, filosofia e economia.

Estudou Direito e Economia na Universidade de Viena, onde teve contato com a obra de Carl Menger, fundador da Escola Austríaca, e foi profundamente influenciado por Eugen von Böhm-Bawerk e Friedrich von Wieser. Sua carreira acadêmica floresceu em Viena, mas, devido à ascensão do nazismo e às perseguições contra judeus, Mises deixou a Áustria em 1934, vivendo em Genebra até emigrar para os Estados Unidos em 1940.

Nos Estados Unidos, tornou-se professor na New York University, onde, apesar de não ocupar uma cátedra oficial, conduziu seminários que reuniram jovens economistas — entre eles, Israel Kirzner, que mais tarde aprofundaria a visão austríaca do empreendedor.

Mises faleceu em 1973, deixando um legado monumental para a teoria econômica e para a defesa da liberdade individual.


A contribuição teórica de Mises

A obra mais importante de Mises é Ação Humana: Um Tratado de Economia (1949), onde desenvolveu a praxeologia, isto é, a ciência da ação humana. Para ele, toda atividade econômica se origina em uma decisão humana, carregada de expectativas sobre o futuro. Assim, a economia não pode ser reduzida a números estáticos, mas deve ser entendida como um processo dinâmico de escolhas em condições de incerteza.

Conheça a obra Ação Humana de Mises aqui disponível em pdf.

Essa perspectiva diferenciava Mises dos economistas de sua época, que buscavam fórmulas matemáticas de equilíbrio. Em vez disso, ele insistia que a economia é movida por indivíduos que agem, erram, aprendem e descobrem.


O empreendedor na visão de Mises

Dentro da praxeologia, o empreendedor é uma figura essencial. Para Mises, todo indivíduo que age em condições de incerteza é, em alguma medida, empreendedor.

  • O empreendedor não apenas calcula, mas arrisca, porque suas decisões estão voltadas ao futuro, que nunca é plenamente conhecido.

  • Ele combina recursos, avalia preços e expectativas, sempre na tentativa de satisfazer necessidades humanas de maneira mais eficiente.

  • Ao contrário de uma visão mecanicista, Mises mostra que o empreendedor é insubstituível: não existe fórmula matemática capaz de reproduzir a sensibilidade humana diante da incerteza.

O mercado, portanto, não é uma engrenagem impessoal: ele é construído pela ação contínua de empreendedores que arriscam e inovam. É nesse processo que surge a coordenação econômica e, em última instância, o progresso social.

O empreendedor na visão de Mises

Na perspectiva de Ludwig von Mises, o empreendedor representa a função central do processo de mercado, pois ao agir sob incerteza orienta recursos escassos em direção às necessidades humanas.


O empreendedor como herói da incerteza

Mises rompe com a ideia de que o empreendedor é apenas um “capitalista” ou um “gestor”. Para ele, o empreendedor é um herói da incerteza. Age sem garantias, guiado pela esperança de lucro, mas também sujeito ao risco de prejuízo. Essa função, longe de ser marginal, é o coração do processo de mercado.

Nas palavras de Mises, o empreendedor é o responsável por direcionar os fatores de produção conforme as preferências dos consumidores. É ele quem ajusta erros, experimenta novos caminhos e faz com que a economia avance, mesmo em meio às crises.


Legado de Mises para o empreendedorismo

A visão de Mises ajudou a consolidar a Escola Austríaca como uma tradição intelectual que valoriza o indivíduo, a liberdade econômica e a iniciativa empreendedora.

No Brasil, esse pensamento ressoa especialmente em um contexto de burocracia pesada e intervencionismo estatal: o empreendedor brasileiro, ao enfrentar barreiras, encarna de forma ainda mais evidente a concepção misesiana de agente que ousa agir em meio à incerteza.

Mises para o empreendedorismo

Sua obra influenciou não apenas a economia teórica, mas também políticas públicas e movimentos em defesa da liberdade econômica. Ao colocar o empreendedor no centro, Mises nos lembra que o progresso não nasce de decretos governamentais, mas da ação criativa de indivíduos livres.


Conclusão

Ludwig von Mises foi mais do que um economista: foi um pensador da liberdade e da coragem humana. Sua ênfase no empreendedor como figura central da ação econômica permanece atual e necessária.

Num mundo cada vez mais instável, a lição misesiana ecoa com força: quem ousa empreender em meio à incerteza não apenas busca lucro, mas ajuda a escrever a história do desenvolvimento econômico e da prosperidade social.

Bom trabalho e grande abraço,
Rafael José Pôncio.




        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.       

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Definições de Características Empreendedoras (por pesquisadores PhDs do assunto)


Aqui estão as principais características do empreendedor atribuídas por diversos autores ao longo do tempo, podemos observar que estes estudiosos atribuem semelhanças nesta linha do tempo independentemente de ciclos econômicos e mudanças globais, vejamos:

AnoAutorAlgumas definições de características em épocas
1848MillAssumir riscos.
1917WeberAutoridade formal.
1934SchumpeterInovação, iniciativa.
1954SuttonDesejo de responsabilidade.
1959HartmanAutoridade formal.
1961McClellandAssumir riscos, necessidade de realização, otimismo,
relacionamento (afiliação), poder, autoconsciência.
1963DavidsAmbição, desejo de independência, responsabilidade,
autoconfiança.
1964PickleFoco, relacionamento, habilidade de comunicação,
conhecimento técnico.
1969GouldPercepção de oportunidade, motivado pela realização.
1969Wainer & RubinRealização, poder e afiliação.
1970Collins & MooreSatisfação e prazer pelo que faz.
1970Hornaday & BunkerNecessidade de realização, inteligência, criatividade,
iniciativa, liderança, desejo de ganhar dinheiro,
desejo de reconhecimento, orientado à realização,
poder e tolerância às incertezas.
1971PalmerMensuração do risco.
1971Hornaday & AboudNecessidade de realização, autonomia/independência,
histórico familiar, agressividade, poder, reconhecimento,
inovação, independência.
1972DraheimExperiência, credibilidade.
1972HowellInfluências (modelos de referência).
1973WinterNecessidade de poder.
1974BorlandAutocontrole.
1974LilesNecessidade de realização.
1977GasseOrientado a valores pessoais.
1978TimmonsFoco/centrado, autoconfiança, orientado a meta,
risco calculado, autocontrole, criatividade, inovação.
1979DeCarlo & LyonsRealização, independência e liderança.
1980BrockhausPropensão a assumir riscos
1980Hull, Bosley & UdellInteresse em fama e dinheiro, autocontrole, propensão a assumir riscos, criatividade, realização.
1980SextonEnergia/ambição, reação positiva ao fracasso (superação).
1981Hisrich & O'BrienAutodisciplina, perseverança, desejo de sucesso,
orientado pela ação, orientado a metas.
1981Mescon & MontanariRealização, autonomia, dominância, controle, organização.
1981Welsch & WhiteNecessidade de controlar, busca por responsabilidade,
autoconfiança, assume desafios, risco calculado.
1982Dunkelberg & CooperOrientado ao crescimento, senso de independência,
especialização.
1982Welsch e YoungAutocontrole, maquiavelismo, auto-estima, assume riscos,
aberto a inovação, otimismo.


Para a pessoa que deseja empreender ou na organização da qual quer desenvolver a cultura empreendedora, é necessário compreender as melhores práticas das ciências humanas, do auto conhecer-se e  analisar forças, fraquezas, potencialidades, dons e competências, buscando incessantemente o auto-conhecimento voltado ao empreendedorismo e gestão.
Bom trabalho e grande abraço.
Rafael José Pôncio


        Reprodução permitida, desde que mencionado o Nome do Autor e o link fonte.